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Filosofia




Filosofia: Etimologia e relação com a ciência

A passagem do mundo mítico para o conhecimento racional está caracterizada pelo aparecimento dos primeiros sábios. Segundo relatos históricos, a filosofia teria nascido na cidade de Mileto no final do século VII e início do século VI a.C., nas colônias gregas da Ásia Menor. O primeiro filósofo teria sido Tales de Mileto (c. 625-558). Anaxímenes e Anaximandro também estão entre os primeiros sábios da “escola de Mileto”          
Pitágoras (séc. VI a.C.),  usou pela primeira vez a palavra filosofia (philos-sophia). De origem grega, a palavra “filosofia” (philosophia) significa etimologicamente “amor à sabedoria”.
Segundo o testemunho de Heráclido do Ponto, Pitágoras teria tido uma conversação sábia com Leão, o tirano de Flionte[1]. Este último sendo admirador de seu gênio e sua eloqüência, indagando em que arte se apoiava, Pitágoras teria declinado do espíteto de “sábio” (sophos) e respondido que não conhecia nenhuma arte, mas que era “filósofo” (pholó-sophos). Leão se espantou com esse termo novo e perguntou quais eram as diferenças entre os filósofos e os outros homens. Pitágoras respondeu que a vida humana era comparável a essas assembléias às quais a Grécia inteira comparecia, por ocasião dos grandes jogos. Do mesmo modo, na vida, alguns são escravos da glória, outros do dinheiro, mas outros, mais raros, observam com cuidado a natureza: “são esses que chamamos de amigos da sabedoria, quer dizer de filósofos”, comenta Cícero. A meio caminho entre o deus e o homem, o filósofo será este ser enigmático, que lança um olhar sereno sobre o teatro da existência. Pode-se imaginar que no fim do espetáculo ele saberá jogar seu manto na espádua direita e partir, com o gesto soberano de um homem livre.
O “sábio” – filósofo – antigo refletia sobre tudo o que envolvia a indagação humana, por isso a ciência muitas vezes se achava ligada à filosofia. Mas foi com Galileu, ao iniciar a revolução científica apartir do século XVII, que essas duas formas de abordagem do real se romperam. Surgiram as ciências particulares – sociologia, psicologia, física – as quais tiveram seus campos de pesquisa específicos, delimitando suas áreas de abordagem do real. Cada ciência, após tal fragmentação, terá apartir daí seu objeto de investigação próprio.
Parece que a filosofia ao longo do tempo, foi esvaziada do seu conteúdo pelo surgimento das ciências particulares e independentes. De modo que até mesmo o questionamento referente ao homem recorre ao estatuto de cientificidade.
No entanto, a filosofia continua investigando e abordando a mesma realidade ora apropriada pelas ciências. As ciências apenas se especializam e observam partes do real, já a filosofia, em momento algum, renuncia a abordagem total do objeto de pesquisa, constituindo uma visão de conjunto e opondo-se a tratar o objeto de forma parcial como atuam as ciências. A filosofia quer superar a fragmentação do real causada pela especialização proposta pelas ciências, visando resgatar o homem na sua integridade e impedi-lo de alienar-se ao saber dividido em parcelas.
A filosofia está presente em todos os setores do conhecimento e da ação, como reflexão crítica a respeito dos fundamentos de tal conhecimento e ação. A ciência emite juízos de realidade, contrapondo a filosofia que emite juízos de valor.
A filosofia é um conhecimento, uma forma de saber que, como tal, tem uma esfera própria de competência, a respeito da qual procura adquirir informações válidas, precisas e ordenadas.
O filósofo é quem ama, almeja e respeita a sabedoria, não se chama “filósofo” (ainda que ele próprio se possa considerar como tal) a um escritor que, à falta de “amor” à sabedoria ou negação de sua veracidade, por falta de cultura ou entendimento suficiente, publica sobre questões filosóficas obras sem valor investigativo concernente com a proposta filosófica ou por vezes completamente desconexas. Do mesmo modo não se atribui o nome de “cientista” ao autor de uma dissertação absurda, tratando ele  sobre uma questão física, química ou astronômica utilizando erroneamente os métodos oferecidos pelas ciências e até mesmo demonstrando uma incapacidade de ruptura metodológica a fim de encontrar um novo caminho para tal investigação.


[1]  Cícero, Tusculanas,  V, 8-9; Diógenes Laércio, Vidas. VIII, 8,6 segundo Sosicrates; Jâmblico, VP, 58.


DOS REIS BORBA, Aldo César

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